• VTX, Primeiros Hackers BR

    From Mauro Veiga@1:2320/100 to All on Fri Aug 19 13:50:02 2016
    OS PRIMEIROS HACKERS BRASILEIROS: OS VICIADOS EM VIDEO-TEXTO
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    Introducao:

    "O videotexto surgiu na decada de 70 procurando utilizar dois componentes existentes nas residencias: o telefone e o televisor. A ideia era acoplar o telefone e o televisor, possibilitando que sinais na rede telefonica pudessem ser decodificados e apresentados na tela do televisor domestico. Alem disso, para possibilitar que fosse interativo foi necessario um adaptador com teclado que possibilitasse essa funcao."

    Aplicacoes:

    * Servicos de informacao: com noticias jornalisticas, anuncios e informacoes de lazer como cinema, teatros, etc..

    * Telesoftware: transferencia atraves do servico VIDEOTEXTO de programas e arquivo

    * Teleshopping: compras a distancia, sem o uso de combustivel e tempo de transito, atraves do servico

    * Homebank: prestacao de servicos atraves de instituicoes bancarias, fornecendo informacoes de saldo, extratos de conta corrente, opcoes de investimento, etc

    * Servico de reservas: para agencias de turismo, hoteis, restaurantes, etc..

    (Introducao a Teleinformatica - Vicente S. Neto, Glaucio C.Lima, Anderson
    A. Porto)

    Tomei algum contato com o Video-texto em 1984-85. Foi um servico instituido pela Companhia Telefonica, operando a velocidade 1200/75 bps, full-duplex. Teoricamente, so' estava disponivel para quem era assinante. A pessoa requisitava e entrava numa fila imensa para ter o seu terminal de videotexto em casa. Algo parecido com esperar conseguir um telefone. Naquele tempo quando ainda se falava do filme "Wargames" e do "poder" que a pessoa podia adquirir comprando um computador, o Video-texto era algo parecido com o que hoje conhecemos como Internet. Havia varios terminais de video-texto em Shoppings, Bibliotecas e Centros Culturais. Basicamente, era uma forma de "introduzir" e "desmistificar" a informatica para o cidadao comum, que alias nao via muito sentido em pagar o preco altissimo por aqueles micros de 64 kbytes que havia nas lojas.

    Se nao me engano, o MSX - Hot Bit da Sharp era um micro que podia ser configurado para acessar esse servico. Havia, entre outras possibilidades,
    a de se fazer download de jogos MSX via telefone. Alem de labirintos de opcoes referentes a servicos, charadas e correio eletronico. Os terminais disponiveis nos Shoppings representavam verdadeiros pontos de encontro da mocada. Normalmente havia fila, entao era uma peregrinacao ate' achar um lugar, onde se pudesse explorar o sistema. Havia labirintos virtuais explicitos, semelhante a uma sessao de software INFO2000, uma coisa meio babaca hoje, mas na epoca, o maximo em ASCII-art. Porem o legal era a opcao
    de correio eletronico, que nem todo mundo tinha acesso. O que hoje chamamos
    de "Bulletin Board", na epoca era quadro de recados mesmo, mas tinha que se
    ir descobrindo os comandos para chegar la', e eles mudavam de tempos em tempos. Pode-se fazer bate-papos eletronicos on-line (assim disseram, nunca vi) e fazer namoros on-line (embora esses namoros virtuais algumas vezes fossem exatamente isso: ficcao).

    Conversando com um ex-viciado, recentemente, tive noticia de que era
    um pessoal que chegava a fazer encontros periodicos, tal qual hoje se faz o IRC-contros em varias cidades do pais. O lugar era chamado "Casa dos Nobres" ou coisa do genero, mas com o passar do tempo, a coisa foi degenerando um pouco e os aficcionados foram rareando. Apareciam tudo o quanto e' tipo de gente, policial, mauricinhos, patricinhas, radicais, uma galera variada, que tinha em comum esse vicio de ficar on-line. Claro que
    ai se trocavam os truques da arte: quando a telefonica passou a so' permitir que modens registrados acessassem o servico, alguns "bambas" da area descobriram como fazer um programa em Basic do MSX que lia o numero de registro do modem "legitimamente" registrado e emulassem isso. Alias, apesar de limitado, podia-se fazer muita coisa com esse BASIC.

    Como por exemplo checar bancos de dados, descobrir o numero de telefone de alguem ou mesmo coisas mais chatas, como o saldo bancario. Nao que isso fosse facil. Haviam concursos e disputas. Ganhava quem fosse mais rapido ou soubesse uma resposta "eletronica" para a coisa. Varios se dedicavam a descobrir senhas para servicos que nao eram abertos para o publico. As vezes o trabalho de conseguir a senha podia ser mais excitante
    do que o servico ao qual ela dava acesso. Mas um acesso e' sempre um acesso
    e servia de moeda de troca. Havia os colecionadores de acessos. Talvez ainda haja. Claro que fazer algo ilegal ou criminal seria besteira, ja' que
    o telefone da pessoa podia ser tracado.

    Havia tambem brincadeiras de adolescentes, como o usar terminal publico para se ligar na casa de um amigo. A pessoa do outro lado poderia ser ouvida pelo "speaker" do aparelho. Quando nao se usava em Shopping, a conta telefonica podia ser monstruosa. "Paciencia" tambem monstro para se conseguir ligar, ja' que as linha telefonicas eram uma merda, como hoje.
    A sessao caia o tempo todo. Mesmo assim, alguns se viciavam instantanea- mente. E' uma forma de se fazer amigos sem sair de casa. Ate' namoro. Para isso, era preciso ter seu codinome (no que alias e' sempre bom) e manter o lance. Algumas vezes a pessoa tinha tres ou quatro codinomes, que usava com pessoas diferentes e circulos de amizade diferentes.

    Claro, havia as tentativas de se fingir ser outra pessoa. Adotando as mesmas expressoes, o codinome, pontos de vista, etc. Quem manjava do assunto, se encontrava fora, combinava uma senha para quando se encontrasse on-line. Tipo: "Deu descarga no banheiro hoje?" "Nao, so' fiz a barba". Se
    a contra senha nao funcionasse, tava na cara que era um fingidor. E os codinomes, aquela coisa mais estranha: uns punham o nome "meto-bem", "ato- falho", etc so' pra curtir o papo sem ninguem convidar pra conversar.

    Hoje, com a Internet, as BBSes, talvez essa cena tenha ficado um pouco apagada. As pessoas tambem evoluem e dificilmente ficam a vida inteira curtindo esse ou aquele vicio. Mas o video-texto, embora atrapalhado pela falta de previsao quanto a popularidade, foi o ponto de partida para varios projetos informatizantes, como a Escola do Futuro, que atualmente usa a Internet como forma de ligar varias escolas, incrementando o gosto do aluno pelo ensino, tal como o video-texto incrementou o gosto de muitos pelo computador.

    BARATA ELETRICA, numero 10
    Sao Paulo, 8 de maio, 1996
    Este jornal foi escrito por Derneval R. R. da Cunha.

    https://sites.google.com/site/barataeletricafanzine/Home/index-html/barata1 0#videotexto

    ___ Blue Wave/386 v2.30
    --- SBBSecho 2.27-Win32
    # Origin: Ninho do Abutre 2 - Rio de Janeiro - Brasil * (4:801/194)
    * Origin: LiveWire BBS - Synchronet - LiveWireBBS.com (1:2320/100)